City e Tottenham protagonizam o jogo onde a classificação encontrou justiça nas duas camisas

No futebol, assim como na vida, aprendemos com o tempo o que é justiça. E um dos sentidos disso, é entregar a algo ou alguém uma recompensa ou punição dentro do nível de merecimento atingido. O que mede o merecimento e decreta se essa recompensa foi justa ou não, depende do vista, tanto na vida, quanto no futebol.


E no cenário do futebol, são colocados à frente dois adversários, que lutam entre si atrás de uma recompensa: a vitória. Em alguns casos, apenas a classificação, ainda que venha com derrota. Foi o caso da noite de hoje.


O placar de 4 a 3 para o Manchester City, que deu a classificação às semifinais da Liga dos Campeões ao Tottenham, é um desses raros casos em que a justiça nada mais é do que uma moeda lançada para o ar, que premia aleatoriamente o merecimento de duas equipes, cuja injustiça seria cometida se qualquer uma delas fosse julgada merecer dar adeus à competição. Foi uma luta franca entre 2 clubes historicamente médios da Inglaterra que se agigantaram um frente ao outro, e ambos frente à Europa, no que foi nada menos do que o melhor jogo dessa edição do campeonato europeu e do ano de 2019.


Guardiola escalou o que tinha de melhor à disposição. Gundogan na vaga tradicionalmente ocupada por Fernandinho, e Bernardo Silva voltando ao time dessa vez na linha de ataque pelo lado direito, que ainda contava com Sterling no oposto e Aguero na referência. De Bruyne fazia o par com David Silva na meia. Já Pocchentino, sem Kane à disposição, mandou a campo um 4-3-1-2 com a trinca Wanyama - Sissoko - Alli na linha de três homens do meio, Son e Lucas na dupla de ataque e Eriksen flutuando entre as duas vertentes.




A trocação típica de Premier League não demorou a aparecer. De Bruyne conduz pela intermediária, abre para Sterling que limpa a jogada e bate com força no canto esquerdo de Lloris: golaço, no primeiro lance do jogo. Problema para o City é que as duas chegadas que o Tottenham deu na sequência, vieram acompanhadas de falhas individuais de Laporte. Primeiro, cortando mal uma bola que virou um passe açucarado para Son, e o sul-coreano bateu com categoria no meio do gol de Ederson. Na segunda, domínio de bola errado que ofereceu o contra-ataque finalizado novamente pelo camisa 7 dos spurs, dessa vez colocado, sem chances para defesa do goleiro brasileiro. Parecia mais uma daquelas noites em que iria se discutir se “Guardiola é tudo isso “mesmo”.


Mas a atmosfera do Etihad nesta quarta-feira era diferente, e merece linhas: definitivamente essa não seria uma noite normal, casual. Nem para o time, nem para a torcida, nem para o futebol. A aura em 50 em tons de azul que permeava a estrutura do moderno estádio citizem, visivelmente tomou conta de quem corria dentro de campo. Infelizmente para o City, o efeito se fez valer para as duas equipes.


Mesmo atordoado com a virada, os comandados de Pep foram buscar o empate um minuto depois, em rápida jogada que termina em um passe de Aguero para Bernardo bater e contar com o desvio que venceria o goleiro adversário. Impossível não sentir a comemoração do português e levantar do sofá para jogar junto.



Apenas dez minutos depois, o próprio Bernardo em jogada na direita, descola um calcanhar que De Bruyne transforma em um cruzamento forte, rasteiro, que encontra Sterling sozinho para virar novamente o placar. Parecia a mágica acontecendo e a justiça sendo feita para quem jogava melhor àquela altura do jogo. Mas o Tottenham chegou para a partida decidido a se classificar e mostrou o tal do “saber sofrer”. Conseguiu segurar o ímpeto do City na primeira etapa e saiu para o intervalo com o placar que lhe dava a classificação.


No segundo tempo, a pressão aumentou. Com o relógio a favor, o time londrino recuou as linhas para evitar o quarto gol. Já sem Sissoko que saiu lesionado no primeiro tempo para a entrada de Llorente, se ajeitou num 4-4-2 que variava entre linha e losango com o centroavante espanhol na referência puxando Lucas para a zona de meio. Do lado azul, a principal mudança foi de postura: mais agressiva e intensa. Em grande jogada de De Bruyne, Aguero marcaria o quarto gol. Era o êxtase. Logo na sequência Guardiola coloca Fernandinho na vaga de David Silva para equilibrar a marcação e oxigenar o time. Funcionou por 15 minutos. Em umas das chegadas esporádicas dos visitantes, um escanteio resultou no gol de Llorente. O VAR entrou em cena e apenas confirmou o gol legal. Era a volta da escalada da montanha para o City.


O jogo foi afunilando e ficando cada vez mais aberto. Àquela altura, ambas as equipes estavam de parabéns. Se De Bruyne e companhia fizessem o gol da classificação, seria heróico. Tal qual seria heroico também, a resistência do primo mais pobre, corajoso, que enfrentou os atuais campeões ingleses sem medo.


A justiça, nesse caso, não escolheu ficar do lado de ninguém. Foi uma moeda atirada pra cima, que revista pelo VAR, tirou da boca o grito de Sterling no último lance da partida. Justiça hoje, talvez tenha sido os centímetros à frente que a defesa do Tottenham se encontrou no momento em que a bola desvia no heroico Bernardo Silva, e vira impedimento para anular o que seria o gol da classificação. Se os deuses do futebol realmente existem, definiram como justiça para o jogo de hoje um cara ou coroa, que encontraria merecimento em qualquer lado que a moeda caísse. Parabéns as duas equipes.


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